domingo, março 27, 2011

Bruna Surfistinha: um novo olhar


 Por Daniela Venas

Todo discurso tende a expor um juízo de valor intencional, principalmente quando parte de indústrias midiáticas, extremamente ligadas ao valor capitalista.  Assistindo a uma entrevista da Raquel Pacheco a famosa e tão bem repercutida atualmente “Bruna Surfistinha”, comecei então a analisar como uma imagem um tanto bem focada, pode influenciar uma camada de jovens a uma realidade não tão comum ao mundo real.
Não me posiciono aqui criticamente contra qualquer profissão, não quero parecer preconceituosa, acho que a profissional do sexo deve sim ter o seu espaço e seu reconhecimento como profissional, isso não resta dúvida, mas qualquer ser humano dotado de conhecimento percebe que a grande realidade das profissionais do sexo não é a mesma da personagem. E para conquistar o seu espaço merecido e respeito acima de tudo, essas profissionais têm um longo caminho a percorrer.
A Bruna Surfistinha bem sucedida, rica, casada e “feliz”, é uma mera exceção dentro da realidade do nosso sistema, onde todos os dias centenas dessas mulheres são expostas a graves violências físicas e morais, muitas vezes praticada por pessoas com grau de escolaridade e posicionamento social. Sendo provado que um grande índice de agressões a essas mulheres são provocadas por jovens de classe média alta.
O meu temor diante dos fatos com tamanha repercussão dessa produção midiática é quantas adolescentes rebeldes, assim como Raquel Pacheco que achava que a proteção da família era um mal em sua vida e tinha a figura dos pais como grandes inimigos, possam encontrar em seu exemplo uma saída para suas inquietações.
A mídia não enfatiza os verdadeiros riscos da profissão como violência, doenças sexualmente transmissíveis, preconceito e dentre outros problemas. O que ocorre é  uma dinâmica de valores contestáveis onde é ressaltado o fato de em três anos de atuação possam ter rendido a Bruna todos os benefícios como uma boa condição financeira e ainda por cima desenvolvendo uma atividade que era prazerosa para ela. O sonho do dinheiro fácil pode mascarar um lado cruel que a própria Raquel afirma como sortuda de não ter passado.
Quando indagada se acha que pode influenciar adolescentes, a mesma afirma que não, mas, quando a entrevistadora pergunta se tivesse uma filha que optasse por essa profissão diz que temeria os riscos que a mesma poderia correr, mesmo não a discriminando, pois é, a mesma reconhece que o mundo que percorreu não é tão fantástico como mostra a ficção, que os lucros não podem superar todos os riscos.
Será mesmo que o dinheiro conquistado pode suprir a rejeição de sua família? Não me pareceu estar tão feliz quando chorou ao pedir perdão a seus pais, e quando diz que sente a necessidade de reatar sua relação com eles. É não há dinheiro que pague um olhar orgulhoso de um pai para um filho.
Pena que as centenas de adolescentes que tornam o filme sucesso de bilheteria não também assistiram a essa entrevista que cito, talvez conhecesse um pouco da Raquel Pacheco e não apenas a Bruna Surfistinha.
     Por trás da ganância de lucros se esquece dos riscos que a influência da mídia pode acarretar, a um preço muito alto em jogo, e nem todas as adolescentes podem brilhar com a sorte de Bruna Surfistinha.

8 comentários:

  1. Parabenizo você Dani pelo blog, a você e à suas amigas, uma ótima iniciativa. Desde já, digo que levarei este texto sobre o filme "Bruna Surfistinha" pra meus alunos e alunas, estávamos discutindo sobre isso semana passada, alguns assistiram ao filme e ficaram meio perdidos.Concordo com você quando diz que o filme não mostrou os principais riscos á que estão expostos as profissionais do sexo. No filme não mostra esse tipo de problema, que por mais que Raquel possa ter vivênciado não iria revelar. Eu assisti inclusive a entrevista. Achei que ela apenas fala da parte lucrativa da profissão. Mesmo que Bruna Surfistinha tenha sido uma mulher de muita sorte em sua profissão, sempre tem os incovenientes, os problemas de sáude,as humilhações, não sei se todos os clientes a trataram com respeito, desde o início de sua carreira. Enfim, são coisas que a mídia não revela, nem o filme, o qual como obra artística achei muito bem feito, passa mesmo veracidade, mas em relação a alguns dilemas que com certeza a Bruna deve ter vivenciado deixa a desejar.

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  2. Vanessa ficamos muito felizes por ter gostado do nosso blog, o nosso muito obrigada, e ficamos muito satisfeitas tb por saber que a nossa iniciativa está sendo aceita com êxito, muito legal o seu comentário, grande beijo!.

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  3. Dani, parabéns por essa bela iniciativa de chamar atenção para um assunto tão sério: A influência da mídia na vida dos jovens. Ainda não assistir ao filme, mas já concordo com sua opinião em relação ao mesmo. Com certeza a mídia tem uma influência muito forte na vida das pessoas, em especial dos jovens. Influência, esta, muitas vezes negativa e, por isso mesmo, é preciso ter uma certa maturidade para captar a essência do que é abordado por ela . Desde que vi a sinopse do filme, senti uma certa insegurança no que concerne a positividade da mensagem que o mesmo iria nos trazer. Irei assistir para, finalmente, tecer considerações mais convictas, mas, desde já, quero ratificar suas idéias compartilhadas através deste texto. Precisamos de filmes e outros programas capazes de nos estimular para práticas mais enriquecedoras do ponto de vista intelectual e cultural. E menos 'baboseiras' ou 'culturas unúteis' que parecem distorcer um conjunto de valores familiares. Valeu sua reflexão, amiga! Bjs

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  4. Adorei tb sua iniciativa de enriquecer o texto com tão belo ponto de vista, muito obrigada amiga, o mundo precisa de mais almas sensatas e corajosas como a sua, capazes de expor com maestria a sua opinião, parabéns também, grande beijo!!!

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  5. Dani, parabéns pelo sábio comentário.
    É necessário estabelecer de maneira coerente o que mercadológico, e é isso que é preciso para uma história se tornar num filme de sucesso - narrativas com lidas e finais felizes, como o que acontece com a personagem, "Bruna Surfistinha" (quase um conto de fadas), e, o que é concreto, real e acima de tudo humano. Ao assistir ao filme o que se imagina é que a vida de uma prostituta é fácil e por hora, até divertido. E o que lemos, ouvimos e o que se diz a todo momento em jornais e nas pesquisas é que não é uma "vida fácil". Hoje sou mãe e sei que apoiarei a minha filha em tudo aquilo que ela escolher para a vida, exceto aquilo que vier lesar a integridade de outras pessoas. Mas tenho certeza que meus olhos não brilharão de felicidade, caso ela trilhe pelo caminho da prostituição e das drogas. Não defendo uma sociedade preconceituosa e não só nada puritana, mas acredito em fatos que devem ser vistos e tratados com criticidade.
    Beijos e novamente, parabéns!!!
    Sucessos

    Mara Guimarães

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  6. Oi Mara muito obrigada pela contribuição, sua opinião é muito interessante!! Parabéns tb
    Grande abraço!!!

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